Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, diz que esta nas mãos do mercado principalmente, dar um freio no desmatamento na Amazônia promovido pela pecuária.
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Além do mercado, está também "na mão dos frigoríficos" frear a retirada de mata nativa na Amazônia para formação de pastagens. (Foto: Cristiano Martins / Arquivo / Ag. Pará ) |
O governo atual já deu seu recado em relação à demarcação de terras indígenas, causas ambientais e desmatamento. Já disse que isso não é um problema. Resta saber se o mercado vai achar isso um problema", disse Barreto, durante o evento Jornalistas em Diálogo - A pecuária na Amazônia, Avanços e Desafios, promovido pelo site de jornalismo ambiental O Eco e pelo Instituto Socioambiental (ISA).
Ele relatou que entre os anos de 2005 e 2012 houve um controle mais rigoroso do desmatamento no Norte do País, principalmente por políticas punitivas e fiscalização mais rigorosa. "Depois disso, o problema recrudesceu", continuou. "O que sabemos, também, é que quando o cerco se fecha, com maior controle, o pecuarista vai buscar mais tecnologias, como por exemplo recuperar áreas degradas, e assim evita abrir novas áreas." Barreto comentou que, depois daquele período (pós-2015), a fiscalização do desmatamento "fraquejou".
O pesquisador citou, ainda, que a efetiva aplicação de multas e punições, como confisco de gado em caso de este estar sendo criado em áreas ilegais, também é uma política efetiva. "Em São Félix do Xingu (PA), por exemplo, a taxa de desmatamento diminuiu 75% com multas pesadas e apreensão do gado." Ele lamentou, entretanto, que, para o governo atual, do presidente Jair Bolsonaro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é apenas "uma fábrica de multas".
"Mas essa postura pode se refletir no mercado, sobretudo no externo. Temos de lembrar que 20% da produção brasileira de carne bovina vai para exportação. Essa falta de política efetiva contra o desmatamento na Amazônia pode, sim, se refletir lá fora." Ele citou fundos bilionários estrangeiros que deixaram de destinar recursos a frigoríficos brasileiros depois que estourou o escândalo das delações da JBS, em 2017.
O crédito rural não voltado à adoção de mais tecnologia, na visão de Barreto, também é um entrave para reduzir o desmatamento. "O pecuarista tem acesso ao crédito, mas não à tecnologia. E ele só busca tecnologia quando a fiscalização funciona."
Barreto avaliou, ainda, que, além do mercado, está também "na mão dos frigoríficos" frear a retirada de mata nativa na Amazônia para formação de pastagens. "São 110 empresas frigoríficas que possuem 93% da capacidade de abate na Amazônia. Elas adquirem gado de 393 mil fazendas", relatou Barreto, acrescentando que a maioria delas assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), se comprometendo a não adquirir gado sobretudo de áreas desmatadas ilegalmente e de terras indígenas. "Essas empresas que assinaram o TAC detêm 73% da capacidade de abate da Amazônia."
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